Histórias de fotojornalistas no Paraty em Foco
Durante o Paraty em Foco tive a sorte de conhecer e conversar com quatro fotógrafos que têm muita história pra contar. Orlando Brito, Evandro Teixeria, Pedro Martinelli e Lula Marques.
Eu, o colega fotógrafo Tadeu Bianconi e o editor da revista Fotografe Melhor, Sérgio Branco, sentamos em um botequim com esses mestres e ficamos horas ouvindo histórias, muitas boas histórias. Vou contar aqui algumas das que consegui anotar.
Da esquerda para direita: Tadeu Bianconi, Lula Marques, Pedro Martinelli, Orlando Brito, Evandro Teixeira e eu.
“Fotografia na mesa de bar”
Primeiro o Orlando Brito contou a história de uma cobertura que ele e o Evandro estavam fazendo na copa da Coréia e Japão em 2002. Evandro chegou atrasado para cobertura e um garda coreano não deixou ele entrar no local que ficavam os fotógrafos nem a pau, Orlando disse que ouvia o Evandro brigando com o tal guarda dizendo “O JB já tá fudido e vc não me deixa entrar, eu preciso entrar porque o mexicano vai embora às 5” e repetiu isso desesperadamente várias vezes para o guarda que não falava nada de português, obviamente não conseguiu entrar e perdeu a foto que precisava fazer. Depois da cobertura Orlando foi perguntar ao Evandro o que história era essa de mexicano que ia embora às 5, já que o JB todo mundo sabia que estava mal das pernas. Evandro explicou dizendo que seu computador estava quebrado e que tinha pedido ajuda a um colega fotógrafo mexicano para enviar suas fotos, mas ele ia embora às 5. Orlando às risadas disse: “o que que esse guarda tinha a ver com o mexicano que ia embora às 5”.
A segunda história foi contada por Orlando Brito, Evandro e Pedro também: Evandro Teixeira e Pedro Matinelli foram indicados ao prêmio Comunique-se em 2007, mas Martinelli não podia receber o prêmio por motivos pessoais, tentou ligar para o Juca Kfuri para receber para ele, mas o Juca não ia, tentou outros colegas, mas não conseguiu ninguém para receber o prêmio em seu lugar(na verdade ele não sabia se ia ganhar ainda, qualquer um dos dois poderiam ser premiados). Na hora do anúncio, abriram o envelope e o Pedro Martinelli foi anunciado vencedor. Como ele não estava presente e não tinha ninguém para o representar, Evandro não pensou duas vezes levantou-se e foi em direção ao palco, recebeu o prêmio para o amigo e ainda discursou. O mais curioso é que eles eram concorrentes e ninguém entendeu na hora que o cara que perdeu levantou-se para receber o prêmio. Somente no Paraty em Foco, dia 25/09/09, os dois se reencontraram, e Evandro ainda sacaneou o Pedro dizendo “recebi o prêmio e ainda discursei melhor do que você faria”.
Evandro Teixeira contou que na copa de 1998, na França, todo mundo pedia aos brasileiros camisas, fotos ou qualquer outra coisa do Brasil. Ele resolveu então copiar fotos do Ronaldo e assinar como se fosse um autógrafo do próprio fenômeno. Depois pegava essas fotos e levava para restaurantes oferecendo a imagem “autografada” pelo craque em troca de jantares e almoços, o que garantiu várias refeições de graça para ele.
Outra da copa da França é do Orlando Brito e do Pedro Martinelli, como todo mundo percebia que eles eram brasileiros, ficavam pedindo brindes do Brasil o tempo todo. Os fotórgrafos, sacanas, diziam que para ganhar brindes tinham que procurar um françês da organização, com blusa e crachá da copa, chamado “Jaci Borrô”. As pessoas saíam perguntando a todos da organização da copa que apareciam: “Jaciborrô”? , e os dois caíam na gargalhada vendo a cena.
Lula Marques contou que no Palácio do Planalto, em Brasíla, tem uma porta, que ninguém sabe pra que serve, com os dizeres “Fancoil”. Para cada fotógrafo novo que aparece para fazer cobertura no congresso, ele e outros colegas perguntam se o cara já tem a autorização do Coronel Fancoil. Como o cara nunca tem, eles indicam o local da tal porta, que não tem ninguém por trás dela, para o cara procurar o coronel e pedir sua autorização permitindo a cobertura fotográfica no Palácio do Planalto, mas eles recomendam, “tem que bater bem forte na porta porque ele é meio surdo”. Depois é só esperar o novato esmurrar a tal porta até perceber que se trata de uma sacanagem. E o cara ainda tem que aguentar os colegas sacaneando, “e ai encontrou o coronel Fancoil?”.
O fotógrafo Tadeu Bianconi, contou que uma vez quando chegou no aeroporto do Chile para uma cobertura fotográfica, depois de pegar suas malas, enquanto aguardava pelo translado no aeroporto, um cachorro da polícia local se soltou do guarda e partiu pra cima dele, começou a cheirá-lo todo e também suas malas, mas fazendo uma festa só. O guarda então também correu em sua direção. Logo Bianconi pensou “tô ferrado, alguém colocou alguma droga nas minhas coisas e agora eu tô fu…” quando o guarda chegou o cão já estava recebendo carinho do fotógrafo. Tadeu, na defensiva, ofereceu seus documentos, malas e equipamentos para que o guarda revistasse se achasse necessário, mas o guarda apenas disse “não entendo esse cachorro, ele não brinca com ninguém, somente com o cara que o alimenta no canil da polícia” disse o guarda sem entender a festa que o cachorro fez ao ver o fotógrafo. Bianconi disse que pelo menos alguém fez festa com sua chegada à Santiago.
Pedro Martinelli contou uma bricadeira que eles faziam com o finado Gil Pinheiro, fotógrafo que foi editor da revista Manchete. Gil era meio surdo, e usava um aparelho para surdez que tinha um volume. Quando ele vinha em direção a um grupo de fotórgrafos Pedro combinava: “quando o Gil chegar todo mundo finge que tá falando e só movimenta os lábios”. Gil chegava e não conseguia ouvir nada, então aumentava o volume do seu aparelho no máximo, pra tentar ouvir alguma coisa. Quando a turma percebia que ele tinha aumentado o volume voltavam a falar muito alto, o que deixava Gil mais surdo do que já era, pois o aparelho amplificava o som ambiente.
Outra história do Gil Pinheiro foi contada por Evandro Teixeira. Uma vez no Japão, Gil foi fotografar um macaco em um zoológico, chegou tão perto do bicho para medir a luz com seu fotômetro que o macaco tomou o fotômetro de sua mão e comeu, destruindo o sekonic do fotógrafo.
Lula Marques contou a história de um ministro do então presidente Fernando Collor que disse ter um cachorro que era tratado como se fosse um humano. Lula então resolveu fazer plantão em frente à casa do tal ministro para fotografar o tal cachorrinho “humano”. Por vários dias ele ficou horas de plantão, mas não conseguiu nada. Certo dia, Lula tinha uma viagem marcada e não podia esperar mais no plantão em frente à casa do ministro e pediu para um colega cobri-lo no plantão. Depois de 10 minitos que Lula saiu, depois de semanas de espreita, o fotógrafo fez a foto do tal cachorrinho humano.
Depois de muitas boas histórias tivemos uma aula de tiro esportivo com Pedro Martinelli, que é fã do esporte e praticante e dos bons, garante: “de 25 pratos costumo acertar 23, 24 ou até 25”. Ele adora um cozinhar, principalmente um carne de caça.
Engraçado que eu e o Tadeu Bianconi, conhecemos esses caras nesse mesmo dia, primeiro o Orlando Brito, que depois nos apresentou para todos os outros, que nos receberam muito bem.
Despois de ouvir tantas histórias cheguei a conclusão que sem bom humor não dá pra ser um fotojornalista feliz, não dá pra aguentar as barras que temos que enfrentar, não dá para ficar horas esperando por uma foto que muitas vezes nem acontece. Só com bom humor para encarar nosso dia a dia.