Paraty em Foco III – Fotojornalismo no Poder

Paraty em Foco III – Fotojornalismo no Poder

Lula Marques e Orlando Brito foram os entrevistados da tarde de ontem para falar sobre seus trabalhos fotojornalísticos relacionados ao poder e a política. A mesa contou ainda com o editor da revista fotografe melhor, Sérgio Branco e do fotojornalista Milton Guran.

Orlando apresentou suas fotos produzidas ao longo dos seus quase 40 anos de profissão, principalmente fotos do seu trabalho em Brasília dos principais personagens da política nacional desde a ditadura até hoje. Ele se mostrou um fotógrafo que se relaciona muito bem com seus personagens, no caso dos políticos demonstrou ter até amizade com alguns bem conhecidos, como os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor.

Essa relação que ele tem com seus personagens reflete bem a peculiaridade do seu trabalho, consegue fotos curiosas, cômicas e diferentes, que ninguém mais consegue. Brito está sempre planejando novos trabalhos, como livros sobre política e futebol pelo Brasil. Sem dúvida é o fotógrafo que mais registrou as grandes figuras da política nacional. A caracterítica do seu trabalho pessoal são de fotos posadas e pensadas que tem resultados muito diferentes da cobertura de política que se vê todos os dias nos grandes jornais.

Lula Marques, é fotojornalista que trabalha na sucursal da Folha de São Paulo de Brasília, tem um trabalho diferente do Orlando, como disse o Milton Guran, “seu trabalho é o de atirador de elite, tem que ficar muito ligado e não pode perder um lance, se não dança, e outro concorrente faz a imagem. Já o Orlando é um engenheiro da imagem”. Lula mostrou ótimas imagens conhecidas da política nacional mais recente, principalmente aquela foto do Hugo Chaves com as orelhas do Mickey, publicada em jornais do mundo inteiro.

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Marques tem uma postura diferente do Orlando Brito, ele não faz amizade com nenhum político. Não gosta nem de elogio vindo deles. Ele acredita que essa postura ajuda ele a trabalhar com mais ética e isenção para criar imagens críticas, fazer denúncias, fotos curiosas e provocantes. Atento a tudo que acontece no congresso, Lula apresentou muitas imagens de flagrantes como o do presidente da França Nikolas Sarcozy flertando com a esposa do Presidente do STF, Gilmar Mendes, durante uma solenidade em Brasília. Lula disse também que as fotos que ele gosta que não são pulbicadas ele publica no blog do josias do UOL.

Depois, em conversa com os dois palestrantes, perguntei como é o clima de concorrência na cobertura diária do congresso os dois responderam a mesma coisa, que não dá nem tempo de lamentar quando se leva um furo, e deram um exemplo recente do senador Eduardo Suplicy que deu um cartão vermelho para outro senador durante seu discurso no senado. Eles contaram que não tinha mais nada de interessante para ser votado e nenhuma discussão interessante naquele dia e, quando o Suplicy subiu para falar, eles e outros fotógrafos foram saíram, enquanto que alguns poucos continuaram e fizeram a foto. Ou seja, nunca se sabe o que vai acontecer e quando vai acontecer, por isso qualquer bobeira você perde “a foto do dia” ou a primeira página do dia seguinte.

Paraty em Foco

Paraty em Foco

Depois de 780 km e 11h de viagem, eu e o fotógrafo Tadeu Bianconi, chegamos ontem à cidade de Paraty no Rio de Janeiro, para acompanhar o Encontro Internacional de Fotografia, Paraty em Foco.

Logo de cara fomos à casa da cultura de Paraty e acompanhamos o final da entrevista do casal responsável pelo excelente lost.art.br . O Ignacio Aronovich e Louise Chin, conhecidos como Ig e a Lou.

Após a entrevista deles conversamos e descobrimos que não são só bons no que fazem, mas são extremamente legais e receptivos, trocamos algumas ideias e histórias. Eles falaram na entrevista e depois dela sobre como é a vida de um casal de fotógrafos que viaja o mundo fotografando e vendendo material para editoriais de todos os continentes.

Contaram que recentemente cobriram a corrida de bicicelta que atravessa os EUA, enquanto um cobria o evento ciclístico o outro estava fotografando outro evento na Califórnia que não estava pautado mas que surgiu em cima da hora. Ou seja, eles não param e topam quase tudo pelo planeta a fora, um grande exemplo de profissionalismo e disposição de trabalhar.

Na sequência acompanhei a entrevista do fotógrafo Alexandre Sequeira que apresentou um trabalho bem interessante realizado em uma comunidade afastada de Belém, capital do Pará, sua cidade natal. Ele conheceu o vilarejo, fotografou seus moradores, que nunca tinham sido fotografados em sua maioria, solarizou as imagens, depois com uma técnica de serigrafia, aplicou as imagens dos moradores em algum pano, cortina ou toalha de mesa dos prórpiso moradores, devolvendo o material final depois para eles, um resutado fantástico que pode ser conferido no site: http://www.culturapara.art.br/artesplasticas/alexandresequeira/index.htm .

O outro trabalho que apresentou foi um realizado com dois adolescentes, um menino morador de uma comunidade ribeirinha próximo à Belém e uma menina moradora da periferia da capital paraense. Ele ensinou fotografia aos dois e utilizou a pinhole depois o negativo, em uma câmera point and shot, como plataforma. Colocou os dois em contato através de cartas e fez com que os dois contassem suas realidades um para o outro através de fotos. Ele uniu essas realiades através de duplas exposiçoes e sanduiches de negativos. O resultado final também é muito bom, e o melhor, ele mudou a vida dos dois, que foram contamindos pela fotografia. Depois da entrevista conversei com ele que também foi muito atencioso e receptivo.

A última entrevista foi do fotojornalista Italiano Fancesco Zizola, ganhador de alguns prêmios wordpress photo, mostrou muita lucidez e simplicidade em suas respostas, falou como sonseguiu algumas coberturas exclusivas em países em guerra, como o Iraque. Até ajuda de traficantes já pediu para conseguir trabalhar sem problemas. Ex dicípulo da Magnum photos, ele é dos fotógrafos do “quanto mais perto melhor”. Apresentou excelentes fotos durante à entrevista e respondeu a todas com um português razoável, mas entendível. Se mostrou muito engajado com as causas sociais e disse que trabalha para mostrar a realidade para o mundo. Confira seu trabalho no site: http://www.zizola.com/home.htm ou no site de sua agência Noor Images: http://www.noorimages.com/index.php?id=home

Abaixo algumas fotos da cidade de Paraty feitas hoje pela manhã:

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Paraty em Foco II –  A Blogsfera

Paraty em Foco II – A Blogsfera

O encontro da blogsfera foi muito bom, a discussão girou en torno do blog do encontro Paraty em Foco, que teve início 3 meses antes do encontro e foi abastecido de informações por vários blogueiros e editado por Alexandre Belém, do blog . Fizeram parte desse blog coletivo os fotógrafos, Clício Barroso, o casal lostart , (Ig e Lou), o Fernando Rabelo do blog Imagens & Visions , Pio Figueiroa da Cia de Foto , Claudio Versiane do Pictura Pixel , o advogado Eduardo Muylaert do blog câmera 16 , a fotógrafa Luciana Cavalcanti do blog fotograficaminhamente e o fotógrafo Léo Caobelli do coletivo garapa .

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A discussão girou em torno do futuro do blog do encontro Paraty em Foco, mas a conversa foi além disso. Falou-se na importância dos blogs para difusão da informação sobre fotografia, nas mais diversas formas: como apresentação de trabalhos fotográficos pessoais, notícias, calendário de eventos, concursos e prêmios, além da publicação de entrevistas, artigos específicos e novidades do mercado.

A conclusão que ficou foi que os blogs são ferramentas importantes, pois através deles os fotógrafos podem se expressar, com textos ou imagens, e ter um retorno imediato do público que acompanha seu trabalho. É uma via de mão dupla de informação, o fotógrafo publica seu post com informações e recebe em troca comentários, que são o feedback direto do seu trabalho.

Uma grande vantagem apontada na discussão foi o espaço nos blogs para apresentação de trabalhos, pois não tem a limitação dos jornais, sendo possível mostrar 20, 30 fotos com textos e links para se abordar um assunto da foram mais completa possível.

Os blogs citados como exemplos são o próprio olhaevê , o do fotógrafo Pedro Martinelli , o blog do Fotoclube de Brasília entre outros.

Outro comentário interessante é que como os blogs tem liberdade e rapidez de informação, muitos deles já estão pautando a grande imprensa.

O fotógrafo Éder Chiodetto da Trama Fotográfica acha que o futuro dos blogs é a segmentação de assuntos e temas, cada um abordará um assunto, um tipo de fotografia, ou falará de equipamentos ou fará critcas de trabalhos.

Outra conclusão que se chegou é que com os blogs se formam comunidades que buscam infrmações na mesma fonte, no caso o blog, e a partir disso surgem boas discussões a respeito do assunto abordado.

No fim das contas a conclusão que se chegou é que o resultado da junção vários blogueiros abastecendo de informações um só blog deu muito certo e que tem que continuar de alguma forma, seja no mesmo blog ou em algum outro espaço.

A entrevista blogsfera foi excelente e abriu a cabeça de vários fotógrafos blogueiros que estavam na plateia, inclusive eu!

Antes do almoço mais uma cena típica de Paraty, os cachorros estão por todos os lados.

Folha entrevista Elliott Erwitt

Folha entrevista Elliott Erwitt

No início dessa semana, no dia da independência do Brasil, a folha publicou excelente entrevista com o Elliott Erwitt, fotógrafo da agência Magnun. Ele disse tudo aquilo que penso sobre a fotografia digital, um pouco exagerado em alguns momentos, mas no todo, o que ele disse é a mais pura verdade!

segue abaixo alguns trechos da entrevista

ELLIOTT ERWITT
“Uma boa foto tem substância e certa magia”
Elliott Erwitt, referência da agência Magnum, fundada por Cartier-Bresson, reclama das imagens fajutas da atualidade

NOME CENTRAL da agência Magnum, referência do fotojornalismo mundial, o fotógrafo francês radicado em Nova York Elliott Erwitt fala de sua desilusão com fotos fabricadas e cores saturadas “para vender Sucrilhos e automóveis”. Reclama da falta de dedicação dos fotógrafos profissionais e revela como retratou Marilyn Monroe, Che Guevara, Simone de Beauvoir, Arnold Schwarzenegger, terriers e chiuauas.
“SENHORITA MONROE”
A atriz Marilyn Monroe retratada em 1960, nas filmagens de 
”Os desajustados”, de John Houston

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não vaza para a vida real o bom humor das fotografias de Elliott Erwitt. Famoso por seus retratos de cães e por congelar a irreverência em imagens em preto e branco, faz algumas décadas que este francês radicado em Nova York reclama da morte da boa fotografia. Diz se sentir hoje um “taxista à espera de um destino” em vez de ser um inventor por trás da objetiva. 
Aos 81, Erwitt está entre os membros mais longevos da agência Magnum, referência no fotojornalismo mundial, que teve Henri Cartier-Bresson entre seus fundadores. É uma influência que ele não renega, mas não gosta muito da ideia de mentores -talvez porque um aluno seu fugiu com sua mulher depois de algumas aulas. Impaciente, rabugento, Erwitt fala pouco. Diz ser um fotógrafo que tira fotos com uma câmera. Só isso. Desde o início de sua carreira nos anos 50, cobriu um amplo espectro do fazer fotográfico -da dureza das fotos oficiais da Standard Oil Company a retratos de Che Guevara e Marilyn Monroe. 
Já publicou 17 livros de fotos, quatro deles sobre cachorros. Desiludido com as manipulações da fotografia digital e cores saturadas “para vender Sucrilhos”, está lançando agora sob pseudônimo um livro de “fotografias toscas, flores, retratos”. Antes de embarcar para São Paulo, onde participa da feira SP Arte/Foto a partir desta quarta, Erwitt falou à Folha, por telefone, de Nova York.

FOLHA – O sr. já fotografou todo tipo de tema, mas sempre retrata cachorros. Acredita que cães são tão interessantes quanto os humanos?
ELLIOTT ERWITT – Muitas vezes, sim. Cachorros não dão desculpas e não se incomodam. São seres simpáticos, como o meu cairn terrier Sammy, que aparece aqui e ali no meu trabalho.

FOLHA – Os cachorros nas suas imagens foram sua forma de inserir um pouco de humor no fotojornalismo? 
ERWITT – Não acordo de manhã e decido ser engraçado. Algumas das minhas fotografias são engraçadas, outras não. Muitos fotógrafos se concentram nas misérias do mundo, outros nas coisas mais belas. Eu só gosto de boas fotografias, não importa do que sejam, contanto que falem da condição humana.

FOLHA – E o que é uma boa fotografia na sua opinião?
ERWITT – Uma boa foto tem de ser bem composta, ter substância e algum tipo de magia que não se pode explicar. Hoje as pessoas são muito desajeitadas ao fotografar. Certo formalismo ainda é importante, mas conteúdo também. Só fotos que têm os dois são memoráveis.

FOLHA – Não pensa que a fotografia digital, com a facilidade de reprodução, tenha banalizado esse tipo de memória fotográfica?
ERWITT – Tenho a sensação que o digital só tornou as pessoas más fotógrafas. Serviu para que amadores pudessem tirar fotos, mas fez os profissionais ficarem folgados demais. Há muito menos pensamento hoje. Você pode dar uma câmera digital a um orangotango e conseguir resultados melhores do que com uma pessoa.

FOLHA – Não acredita que o sr. resiste muito às mudanças?
ERWITT – Nada mudou. Muitas das minhas boas fotografias são as mesmas agora que eram há 50 anos. O interesse essencial não mudou e não vai mudar. Pode ser monótono para outros, porque agora está na moda ser “cool” e atual, mas não me interessa ser “cool” e atual. Não sou tão conservador, só acredito em regras na fotografia. Se você está fotografando, tem responsabilidades. Tem de fazer um trabalho honesto.

FOLHA – Há muita discussão sobre a veracidade de imagens feitas agora e também de algumas clássicas, como as da Guerra Civil Espanhola, de Robert Capa, alvo de suspeitas de fraude. Ser honesto é não manipular imagens?
ERWITT – Se você quer ser fotógrafo, manipular imagens é uma coisa terrível. Isso ficou fácil demais e virou algo quase criminoso, e ao mesmo tempo muito “cool”, muito atual. Acho que tudo bem, contanto que não chame isso de fotografia.

FOLHA – O que é fotografia então?
ERWITT – Fotografia é o que está ali, não o que você inventa na tela do computador. Isso vale se você quer vender Sucrilhos ou um automóvel, mas é preciso dizer que você quer vender Sucrilhos ou um automóvel. O que é especial em fotografia é que é real, não que você voltou para um quartinho e fabricou algo. Isso não é fotografia.

FOLHA – Como foram feitos seus retratos de celebridades?
ERWITT – Foram feitos com uma câmera. Não há mistério, você vai lá, encontra a pessoa e tenta fazer uma foto que tenha a ver com a personalidade dela, mas é uma questão de sorte e simpatia. Quando vê alguém famoso ou qualquer outra pessoa que vai retratar, você tenta formar uma opinião sobre a pessoa.
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FOLHA – Quais foram suas opiniões sobre Marilyn Monroe?
ERWITT – Tentei fazer com que as circunstâncias influenciassem mais o retrato do que meus preconceitos. Fotografei a senhorita Monroe nas filmagens do filme “Os Desajustados”. Era uma atmosfera caótica, por causa do comportamento da grande estrela que ela era. Estava muito estressada e chegava sempre atrasada às filmagens, despreparada. Mas diante da câmera, pareceu muito gentil, simpática, mesmo louca.

FOLHA – Foram todos retratos em preto e branco. O sr. usou cor só agora que fez um livro sob pseudônimo. Por quê?
ERWITT – Prefiro preto e branco para meu trabalho sério. Não tenho nada contra a cor, só acho que preto e branco é mais bonito. Nesse livro colorido, só estou me divertindo.

FOLHA – Mas o sr. só se diverte quando está ironizando algo?
ERWITT – Gosto da minha vida. A fotografia é minha profissão e meu hobby. Não penso nessas coisas. Sou só um fotógrafo, não fico filosofando, sou apenas um fotógrafo. Só tiro fotos.

Fonte: Folha SP